quarta-feira, maio 31, 2006

O dia

— Já faz algum tempo...
— Mas parece que foi ontem.
— É sim, parece que foi ontem e eu nem me toquei que já passou tanto tempo...
— Sabe aquela música, aquela do Kid Abelha...?
— Não... Qual?
— Aquela que fala assim, ó: “há vinte anos, você nasceu... Ainda guardo um retrato antigo... e blá, blá, blá...” Sabe?
— Sei sim, o que tem ela?
— Ah, nada... É que ela é oportuna...
— Oportuna para quê, criatura?
— Para o que você vai tratar...
— Mas tu nem sabe do que eu vou tratar...
— Você que acha que eu não sei. Mas eu sei. Sei tudo. Eu sempre sei.
— Pois é. Já faz algum tempo...
— Foi há vinte anos...
— Vinte e um, para ser preciso.
— É. Vinte e um, mas a gente pode omitir esses detalhes sórdidos...
— Ué? Por quê? Tu não quer ficar velho?
— Não é isso, tchê... Ah, esquece...
— Continua.
— Ok. Foi há vinte anos...
— Vinte e um! E você já falou isso...
— Deixa eu? Please...
— Ok.
— Era um trinta e um de maio como esse, mas estava muito frio. Foi no sul do estado, em Itapeva.
— Ahan.
— Sexta-feira treze ao contrário. Era noite. Na televisão passava Globo de Ouro, falecido programa da TV Globo.
— Nooooooosssa! Tu é velho... É do tempo do Globo de Ouro.
— Ahan. E aguarda, viu... Fica na tua com esses comentários, pois a tua hora vai chegar...
— Uia! Fiquei com medo...
— Foi um corte. Um rompimento da realidade existente até então. Saí daquele universo intra-uterino e saltei para um mundo de podridão e desgosto.
— Quer um golinho de veneno?
— Por?
— Bah, meu, ta depressiva essa narrativa..
— Chega! Estou cheio de você... Não conto mais.
— Ah, não. Fala sério...
— To falando suuuuper sério. Não conto mais...
— Ah.

Virei as costas para ele e fui dormir.

quarta-feira, maio 17, 2006

doggie walker

Photobucket - Video and Image Hosting

Oh my! Fui passear com meu cachorro ontem, reinaugurando o antigo hábito, de passearmos eu-ele-a-tutila, todos os dias. Meu cachorro impõe respeito nos nossos passeios e assim é o jeito que deve ser, pois ele é um doberman. Saímos cedinho (para os meus padrões), 7:15 da manhã mais ou menos.
No caminho, como de hábito, fomos conversando. Não que ele responda (afinal, se trata de um dog), mas eu continuo falando e conversando, pergunto as coisas pra ele... Calma! Não sou louco... pelo menos, eu... ok

— Pchiu! Ô Doby, você não vai me envergonhar se eu falar pra você não brigar com aquele pastor alemão que tá solto ali na esquina, vai?

— Não, porque é assim, né, tipo... você tá meio que ligado a mim com a guia e tal... fica xarope se vc resolver brigar... tipo... ok?

— Você não quer descer aquela rua ali? Deve ter muito poste, muita moita, muita arvorezinha pra você mijar... o quê você acha?

O doberman, pra parecer um pouco civilizado, eu levo na guia, sob o meu controle. A Tutila, nossa vira-lata que foi achada banhada em óleo diesel numa ponte sobre a Bandeirante quando era apenas uma filhote, vai nos acompanhando lado a lado... é um time de peso... principalmente quando meu dog resolve premiar alguma calçada... Sabem do que eu estou falando? Não? Então deixa assim...
A certa altura da caminhada, chegamos na parte de trás do bosque que existe no meu bairro, e eu vi uma casa que vai dar uma boa história... tipo... Tudo o que o tini sabe na vida, ele sabe. Mas tudo o que o tini não sabe, ele preenche com ficção... :)
Logo após esses acontecimentos, eu, como de costume, resolvi perverter mais uma música. Desta vez, a música é do John Lennon...
Feche os olhos e imagine o tini, segurando um doberman e com um vira-latas do outro lado, andando pelo bairro e cantando a letra abaixo...

oh dizas!

My dog's song (Imagine-John Lennon)

Imagine there's no more cats. It's easy if you kill them.
No postman around us. And our holes full of bones!
Imagine all the people walking with their dogs!

You may say i'm a dog dreaming
But I'm not a home for fleas!
And if you could understand our yelping
So our lives would not be so peacefully!